As estações da vida
Costuma dizer-se que as pessoas que ficam sozinhas, ou porque não casaram, ou porque os seus familiares faleceram, ou por qualquer outro motivo, são infelizes: isto porque um dos maiores medos do ser humano, é esse mesmo: ficar na solidão.
Aquilo que por vezes nos parece absurdo, é todavia, uma grande verdade: seja quem for, num momento ou outro da vida, sente sempre que
os outros o abandonaram! Aliás, mais que os outros – sente até que tudo e todos o abandonaram.
Ficar sozinho quando não é uma opção, é uma imposição…
Principalmente na nossa juventude, talvez até mais na adolescência, diversas vezes dizemos que queremos ficar sozinhos, depois choramos porque nos sentimos sozinhos, e acusamos os outros de nos terem deixado assim.
Passado alguns anos, já somos pessoas diferentes, e temos tendência a querer que todos nos rodeiem… Todo o tempo que passamos com os outros nos
parece pouco: vamos a todas as festas, não perdemos uma única oportunidade para sair e as multidões são o nosso mundo.
Mais algum tempo volvido, e vamos aprendendo o valor do silêncio e do descanso: cansamo-nos de toda aquela euforia de outrora,sentimo-nos muitas vezes “deslocados” e pensamos em mudar de vida – mas já perdemos a euforia de outrora! O que tínhamos a fazer de novo e inovador achamos que já está feito, e que agora é tarde demais. Subimos mais uns degraus na escada da vida e procuramos não um tempo sozinhos, mas sim um tempo só connosco mesmos. É uma fase profunda, de reflexão, onde nos procuramos afastar da monotonia, apesar de já termos mergulhado nela.
Por vezes, por volta desta faixa etária volta aquele entusiasmo da juventude – pode até tentar-se viver essa euforia por algum tempo – mas depois apercebemo-nos que o nosso tempo já passou, e que a juventude já não passa de retratos de um passado perdido.
De uma determinada idade em diante, sentimo-nos já como meros espectadores da vida: como se estivéssemos sentados numa qualquer cadeira
num café a olhar os outros, a ver a vida passar, a ver que por muito que se tente contrariar a vida, todos acabamos por fazer mais ou menos o mesmo
percurso.
Aí sim, vem realmente o medo da solidão – já não é o medo de se viver sem ninguém – mas a angústia de se poder morrer sozinho.
Damos gritos no silêncio, choramos sem lágrimas à vista, e ainda assim às vezes conseguem ter a indecência de nos abandonarem…
Apesar de vermos que todos têm um percurso muito idêntico, o certo é que todos se esquecem que passarão pelo Outono da vida, e que precisarão dos outros mais do que nunca, para não caírem sozinhos num abismo chamado solidão!
(Texto produzido por Daniela Leal para a Fábrica de Histórias).