A anos-luz… daquilo
-Gégé, tens Aquilo?-perguntou Zizi.
-Eu? Eu não…Eu dei Isso ao Quimé!
Todos andavam à procura d’ Aquilo, mas ninguém sabia onde Isso estava, pois o Gégé era o irresponsável da galáxia, e o Zizi o mais esquecido, bem como o Quimé o mais disparatado.
-Oh, mas bem sabes que Aquilo era importante- lamentou-se Gégé.
-Eu não tive culpa, e o certo é que a missão é daqui a doze horas e temos que ter Aquilo, se não, não podemos fazer nada!
-Eu não acredito,mas é que eu não acredito…
-Pessoal,pessoal – aparece Quimé a gritar- nem vos digo o que aconteceu!
-Onde está Aquilo?-apressou-se a perguntar Gégé.
-Agora é que a porca torce o rabo! Estava a vaguear pela Via Láctea quando sem querer Aquilome escorregou…
-Escorregou?-apressou-seZizi a perguntar- Como é que Isso foi possível?
-Olha, sequeres que te diga, nem eu sei… O que eu sei é que Aquilo escorregou-me e foi cair dentro daquele Planeta que é muito azul, aquele depois de Vénus… Como é que se chama?
-Na Terra? –atirou Gégé.
-Nem mais -confirmou Quimé - E agora temos que ir lá buscar Aquilo.
-Temos?Temos não meu amigo. Segunda pessoa do singular: Tu tens.
-Não acredito que vão deixar aqui o vosso amigo Quimé sozinho… Vá lá, vamos lá num rápido, trazemos Aquilo, e está o assunto arrumado! É um instantinho. É chegar lá, pegar e andar: metemo-nos na minha nave espacial, e daqui a nada jáestamos cá.
-Ó Zizi acho que temos que ir mesmo com ele – começou Gégé- Se não temos Aquilo nas nossasmãos até à hora combinada estamos completamente excluídos da coisa. Não, não pode ser! Vamos com ele.
Partiram os três amigos na nave espacial de Quimé, e chegaram ao Planeta Terra.
Primeiro ficaram assustados com aqueles movimentos daquelas máquinas com rodas, e depois ficaram receosos com as caras daquelas indivíduos dos quais já tinham ouvido falar: os humanos – eram semelhantes a eles fisicamente, mas Quimé achava-se bastante mais bonito.
-Ao menos as nossas roupas não são muito diferentes das deles – observou Gégé.
-São sim, eu não conseguia andar com as calças com a cintura nos joelhos, olha para aqueleali, nem consegue andar!
-Tchi,olha-me bem aquilo Quimé. Já viste como esta gente anda tão séria, sem se rir,sem dizer bom dia?
-Eu acho que quero voltar para a nossa Galáxia – observou Gégé.
-E vamos para lá, mas primeiro temos que encontrar aquilo que o Quimé fez o favor de perder, não foi?
-Ei! Olha Aquilo! Está ali, está ali!
-Ali onde? –perguntou Zizi.
-Ali, ali em cima, em cima daquela coisa grande!
Quimé perdera Aquilo, e Aquilo caíra em cima das telhas do Parlamento de um Paíschamado Portugal. Não era nada fácil trepar até lá cima, mas eles tinham que arranjar uma solução.
Viam carros muito compridos a chegar, e aproveitaram-se da distração dos guardas, parasubirem por uns canos e entrarem pelo telhado. A primeira coisa que viram é que lá dentro haviam muitas cadeiras, mas também muitos lugares vazios. Para além disso estava um senhor a discursar, a quem chamavam uma coisa muito estranha: “Senhor Primeiro-Ministro”.
Parecia que o ano de 2056 não estava a correr muito bem para este país, que haviam uns senhores quaisquer, que tinham andado a emprestar dinheiro a Portugal e ainda não tinham parado de cobrar uma coisa que parecia incomodá-los muito, chamada “juros”.
-Ei pá, -diz Quimé dando uma palma na cabeça a Gégé- olha ali Aquilo, vai buscar!
-Tu estás doido pá! Aquilo está ali no meio, não podemos entrar lá dentro. Ou muito me engano, ou este mausoléu é um sítio importante para os humanos, se entramos lá dentro estamos feitos.
-Deixa-te disso Zizi, tu não vês que tem ali muitas cadeiras vazias? Entras aqui pelo telhado cais numa, trazes Aquilo e vamos embora…
-Olhem eu vou, pronto! Assim fica o assunto arrumado – aventurou-se Gégé.
Gégé atirou-se então pelo telhado e caiu mesmo em frente do político que discursava na altura. O discurso parecia-lhe um tudo-nada confuso, mas o que queria era pegar Naquilo, e ir-se embora. Contudo, quando Gégé já tinha Aquilo na mão, opolítico dirige-lhe uma pergunta:
-E o senhor deputado, o que acha?
-Está a falar comigo? – inquiriu Gégé.
-Pois está claro que estou! Que me tem a dizer senhor deputado, o que acha disto?
-Disto?Disto ou Daquilo? Aquilo é muito importante para mim, mesmo muito importante! Aliás, é por causa d’Aquilo que eu estou cá...
-Por amor de Deus senhor deputado, aquilo também não é assim tão importante.
-O senhor é que não percebe nada disto – atirou-lhe Gégé.
O Parlamento rompeu em gargalhadas e bateu palmas a Gégé, que aproveitou para sair de mansinho; ao chegar perto dos amigos Quimé elogiou:
-Parece que os humanos te acharam piada Gégé, se calhar devias investir nisto!
-Oh, vamos mas é para a nossa galáxia, que já temos Aquilo!
E lá foram os três amigos de volta para a sua galáxia, rindo-se da confusão que ia no meio de todos aqueles políticos.
(História
escrita por Daniela Leal para a Fábrica de Histórias)
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Ser feliz
Há muita gente que pensa que ser feliz é uma tarefa árdua e até
impossível de concretizar, contudo, no meio de uma tempestade existe sempre uma
luz, que por muito ténue que seja, brilha sempre e ilumina nos momentos em que
é necessária.
Nunca esperei
facilidades da vida, e talvez por isso é que ela não mas deu:nunca completei o
curso que desejava, nunca arranjei o companheiro que queria, da mesma forma que
nunca consegui ter a vida com que sonhava.
Hoje, sei que nada
foi em vão, e que aprendi muito mais do que se tivesse concretizado todos os
meus sonhos e atingido todas as minhas metas.
A única relação que
tive que me satisfazia, ia tendo um ponto final porque nenhum de nós aguentava
o terrível facto de eu não conseguir ter filhos. Várias vezes me culpei,
chorei, culpei Deus, depois a Medicina, depois a mim mesma, e no fim, até
deixei de atribuir culpas… Não valia de nada!
O certo é que por
mais tratamentos que fizéssemos, por mais dinheiro que gastássemos, nada
parecia concretizar o nosso sonho.
Um dia, vi uma
daquelas campanhas de solidariedade para se apoiar instituições com crianças
com deficiência.
O meu companheiro não
tolerava a ideia de adotar, muito menos uma criança com necessidades especiais,
mas nada me demoveu.
Quando cheguei à
instituição conheci uma criança lindíssima com pouco mais de um ano de idade:
nascera com lesões graves no cérebro e fora deixada à porta da instituição, por
uma qualquer mãe revoltada, que nunca mais voltará a dar notícias.
Como será possível
que uma criatura abandone alguém tão bondoso, tão frágil… Quando falei com uma
das assistentes que passava muitas horas com aquelas crianças, percebi nos
olhos dela uma determinada admiração quando lhe falei no interesse em adotar
aquela menina: “Chama-se Lara nasceu com um grande atraso cognitivo e profundas
lesões no cérebro”- avisou-me desde logo a assistente.
É óbvio que quando
contei a minha decisão ao meu companheiro ele saiu de casa- naquela altura
queria odiá-lo, mas hoje não o condeno, fez a escolha dele, e eu fiz a minha.
Trouxe a Lara para
casa e não posso mentir: foi muito difícil!
Tive que mudar de
emprego de forma a poder dedicar-me mais à Lara - ela necessitava de ajuda nas
mais diversas tarefas, desde tratar da sua higiene, até comer e movimentar-se. Cheguei
na altura a pedir dinheiro emprestado, a fazer obras em minha casa para
facilitar a deslocação da minha menina, e até por breves meses contratei uma
empregada. Fiz tudo e de tudo, coloquei a minha energia toda ali, fiz o que
nunca pensei conseguir, fui buscar forças onde não sabia que elas existiam.
Os olhares na rua
eram pesados, e os que me conheciam há bastante tempo chegaram até a
perguntar-me:
“Onde estavas com a
cabeça?”
Olhavam para a Lara
como uma aberração, um peso morto, uma inútil; mas para mim ela era a minha
princesinha, o meu mundo, a minha alegria, era tudo para mim.
Eu aguentei tudo
sempre de sorriso na cara, só pensando no bem-estar daquela que era agora, a
razão da minha vida.
Assim aprendi que ser
feliz é olhar para trás e saber que fiz a coisa certa, saber que por muitas
rasteiras que a vida me tente pregar eu e a Lara estaremos sempre e para sempre
unidas.
A Lara, supostamente,
nunca iria alcançar a capacidade de articular palavras, mas houve um dia em que
ao acordar de amanhã olhei para o meu lado e lá estava ela a olhar para mim,
com aqueles olhinhos pequenos, cor de amêndoa, e eu perguntei-lhe com um
sorriso:
- Que foi minha
princesinha?
Ela com muita
dificuldade e a gaguejar disse-me:
-Mamã.
Os meus olhos encheram-se
de lágrimas e senti-me a mulher mais feliz do mundo; abracei-a tanto tanto e
acariciei-lhe o cabelo até ela adormecer novamente.
Toda a minha
esperança, toda a minha felicidade estava ali entre os meus braços, e hoje até
fico feliz por o destino ter colocado a Lara na minha vida.
Porque sempre que se
fecha uma porta, abre-se sempre uma janela.
(Texto escrito por Daniela Leal para a Fábrica de Histórias)